DIABETES E AS GORDURAS
Dr. Sang Lee
Há alguma novidade nessa
doença tão comum que mereça nossa atenção? Sim, muita. De certa forma,
esse conhecimento mudará completamente a maneira de encarar e tratar a
doença. Mas como era considerado o diabetes até então? Classicamente,
era definido como uma alteração do açúcar ou glicose no sangue.
Em pessoas normais, temos taxas de glicose que variam 70 mg% a
110 mg% no plasma sangüíneo. Isso em jejum. Numa pessoa diabética, a
taxa estará sempre acima desses valores. Podemos encontrar valores de
150, 180, 200, 300 ou mais miligramas em cada 100 ml de plasma. Em
outras palavras, há um excesso de glicose no sangue.
Ao mesmo tempo que a glicose se acumula no sangue, falta nas
células e tecidos. As células, que necessitam de glicose para produzir
sua energia, passam por racionamento. Essa incapacidade da glicose
penetrar nas células e fornecer a energia necessária às atividades
vitais é atribuída à falta de insulina. A função da insulina é “abrir as
portas das células” para a glicose entrar. Como falta insulina, as
portas não são abertas, a glicose não entra no interior das células e a
conseqüência disso é o seu acúmulo no sangue.
Fica congestionada no sangue e o excesso começa a ser eliminado pela urina. Daí o nome diabete-melitus (urina doce).
Com base nessa análise, o tratamento que se faz para os doentes
portadores de diabetes é restringir a quantidade de açúcar e de
alimentos que venham a ser transformados em glicose na digestão, e
estimular o pâncreas a produzir mais insulina. Quando isso não resulta
em baixa do açúcar no sangue, é aplicada uma dose de insulina através de
injeção diária debaixo da pele.
SINTOMAS DO DIABETES
Quais são os sintomas de alguém com diabetes? Como
há muito açúcar no sangue, mas pouco à disposição das células,
instala-se a falta de combustível. Falta energia. O doente fica
cansado. Desanimado. Não tem forças suficientes para suas atividades
normais. Além disso, como o excesso de glicose é eliminado pela urina,
ela aumenta em quantidade. Pela perda de muito líquido pelos rins,
desencadeia-se a sede e o doente bebe muita água.
Estudos recentes no campo da ciência médica têmmudado esses
conceitos tradicionais. Ao invés de aceitar essa explicação sobre a
origem da doença, foram feitos vários estudos ao nível de células
individuais.
A primeira verificação foi em relação à insulina. Por que ela
estava faltando e quanto faltava? Para sua surpresa, os cientistas
verificaram que em vários casos de diabéticos não havia, absolutamente,
falta de insulina; pelo contrário, havia até insulina em maior
quantidade no sangue do que em pessoas normais.
“Como isso pode ser assim?”, perguntaram os cientistas. Eles
sempre pensaram que a falta de insulina era a causa do diabetes. Agora
verificavam que, mesmo com insulina em quantidade normal, a doença já
existia. Isso os levou a procurar outras causas.
Primeiro, verificaram se o problema não estava com a própria
célula. “Quem sabe a célula que precisa da glicose não consegue abrir a
porta para que a glicose entre”. Foram, pois, examinados os mecanismos
de abertura dessas células para ver se tudo estavam em ordem.
Constataram que a entrada da glicose era possível. Os mecanismos de
abertura estavam funcionando bem.
“Por que então não entra glicose nas células? Há glicose à
vontade, há insulina, mas nada dentro das células e, no entanto, as
portam funcionam. Por que as portas não se abrem?”
A CAMPAINHA DA CÉLULA
Alguém
teve a idéia: “Deve haver uma campainha ou algo semelhante que chama a
célula e permite a abertura da porta para a entrada do açúcar”.
Essas campainhas, chamadas também de “receptores”, foram então
pesquisadas e descobriram que tinham desaparecido! O que aperta essas
campainhas é a insulina. Mas embora ela apertassem as campainhas que
sobravam, nem sempre funcionavam. Elas estavam emperradas. Não
sinalizavam para a célula a necessidade de permitir a entrada da
glicose.
Havia glicose, a insulina batia à porta da célula, mas esta não
ouvia o sinal e a porta permanecia fechada. Resultado: a glicose
aumentava no sangue, as células reclamavam para o cérebro que faltava
combustível, este dava ordem ao pâncreas para mandar mais insulina para
abrir as células, mas nada.
Com o tempo, a própria insulina passava a escassear por exaustão do pâncreas. O diabetes complicava-se mais e mais.
Faltava agora descobrir por que a campainha da célula não funcionava
mais. “Seria o próprio açúcar o culpado?” Os cientistas chegaram à
conclusão de que não.
Havia excesso de açúcar porque ele não era devidamente
utilizado. Caso as células admitissem a sua entrada, ele logo se
normalizaria na corrente sangüínea. Descobriu-se finalmente o segredo,
testando voluntários com tipos diferentes de dieta.
A um grupo foi fornecida muita quantidade de açúcar, para
observar se o excesso seria eliminado na urina como no diabético.
Somente depois de muitos dias, o excesso de açúcar começou a ser
eliminado com a urina. Quando, porém, alimentavam o mesmo grupo com
grande quantidade de gordura, poucos dias depois, começavam a eliminar
açúcar na urina.
Concluíram os cientistas: “O problema principal na origem do
diabetes é o excesso de gordura”. A gordura emperra a “campainha” da
porta, impedindo a entrada do açúcar na célula. Como conseqüência,
acumula-se o açúcar no sangue e o excesso é eliminado pela urina.
O cuidado e o tratamento devem ser dirigidos contra a gordura e
não tanto contra o açúcar. Logicamente, excesso de açúcar na dieta de um
paciente não fará nenhum bem. Mas a sua restrição não será, igualmente,
tão benéfica. Deve ser restaurado o funcionamento normal desses
receptores, a fim de permitir a plena entrada da glicose e posterior
aproveitamento pelas células.
Muitos desses receptores já não existem. Podem, porém, ser
novamente formado se funcionar sem problema. Sim, desde que se omita da
alimentação as gorduras, principalmente as de origem animal.
A retirada de gordura facilita essa função da célula. Ao mesmo tempo, o
diabético deve fazer mais exercício. O exercício aumenta a necessidade
de energia que as células devem produzir a partir da glicose. Essa
necessidade estima os genes celulares a produzir novas campainhas e,
livres da gordura, elas passam a funcionar perfeitamente, permitindo à
insulina o seu trabalho de apertá-la e franquear a entrada de açúcar nas
células.
Assim, a saúde da célula pode ser estabelecida: com alimentos
sem gorduras. Não há necessidade de excesso de cuidados em relação aos
carboidratos (açúcares), que devem ser de origem integral, pois os
integrais favorecem uma digestão mais adequada para o aproveitamento das
células.
Novamente, frutas, legumes e cereais integrais, associados a
exercício adequado, farão muito na recuperação de um diabético.
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